quarta-feira, 27 de maio de 2009

Rolamentos

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Isto não era mesmo brincadeira de meninas…
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Engenharia pura. Da mecânica, provavelmente.
E de elaboração complicada.
Chegava a demorar toda uma manhã!
Tábuas fortes e bem pregadas, para aguentar a trepidação provocada pela velocidade, na descida.
Um baraço à maneira, que aguentasse o zig-zag por entre as pedras da ladeira, era fundamental como guiador (ou volante, se quiserem).
Bem preso na direcção, com nós de jeito, daqueles dos pescadores.
Perder o controle durante a viagem, seria catastrófico! Só restariam os travões de calcanhar para evitar o voo que acabaria, de certeza, em nariz e joelhos sangrando.
Nas rodas, o grande segredo do veículo: aqueles cilindros brilhantes de aço, com esferas por dentro, que não se cansavam de rolar.
Pois. Os rolamentos. Davam “asas” aos carrinhos que rasavam o chão.
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Lá na rua, ainda não tinham inventado os skates, nem o alcatrão.

domingo, 17 de maio de 2009

Meias de lama


Depois da chuva, a rua era inundada de oceanos.
Imensos oceanos.
Assim que secavam as nuvens
e antes que secassem as poças d´agua, a “malta” assaltava as carpintarias, à procura de restos de madeira, ainda não feita em serradura…
Com isso, alguns pregos já sem uso e umas boas marteladas nos polegares, se construíram os mais fabulosos navios.
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Aportámos em ilhas desertas!
Lutámos contra os mais ferozes piratas!
Vencemos as mais perigosas tempestades!
Tivemos autênticas batalhas navais, dignas de Sir Francis Drake!
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Oceanos imensos, os da minha rua.
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No fim da tarde lá recolhíamos a casa, com meias de lama, prontos para o ralhete…

segunda-feira, 11 de maio de 2009

...E riscos!


Juro que tentei um desenho certo, exacto, limpinho...
Nem que fosse por uma questão de exercício de mãos, de dedos, de cores...
Nem que fosse para experimentar, para ver se era capaz...
Tentei reproduzir a "coisa", precisamente como a via: perfeita!
E depois de um grande aborrecimento a tentar copiar o que a natureza faz muito melhor que eu, não resisti a pôr uns "borrões" por cima...
Decididamente, o perfeito não me cabe.
Não tento mais!!!

sábado, 2 de maio de 2009

Menino

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Era uma rua feita de barro e terra.
Pedras rolantes, ladeira abaixo.
Era uma rua com trilhos serpenteantes, feitos dos nossos pés descalços.
Era uma rua de brincar, onde se vivia.
Com a sirene do peixe soando ao meio-dia e o cheiro da sardinha fresca nos dedos delas e as tamancas repletas de escamas brilhantes.
Era uma rua feita de barro e terra e mercearias e rebuçados de mel.
Era uma rua de brincar, onde se vivia.
Na rua ao lado vivia o mar, na babuja do estaleiro.
Eles, no sol da tarde, esticando as redes na avenida desenleando limos, de navete tecendo buracos e atirando à malta as bóias velhas, quando a cortiça delas já morria.
A alma dos carrinhos de cana! Era isso que a malta queria!
Os “pneus”, encaixados com arames, fortes e folgados, a dar “direcção”.
O “volante”, ajustado no nó de crescimento da cana, permitindo curvas.
E descíamos ladeira abaixo serpenteando, trilhando, voando, conduzindo o carro mais importante do mundo!
Era uma rua feita de barro e terra e mercearias e rebuçados de mel e gente com cheiro a sardinha fresca.
Era uma rua de brincar, onde se vivia.
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